sexta-feira, 23 de abril de 2010



Esses dias vi um programa que falava algo sobre uma pessoa viver dois mil anos. Aquilo me intrigou. Viver dois mil anos? Já imaginou?
Pra mim, dois mil anos é impensável, mas vamos lá: milzinho. Eu teria visto muita gente morrer em guerras, teria passado vários dias só comendo batatas, saberia o que é viver sem internet, sem eletricidade (!), teria sido vassala, ou talvez uma muito nobre senhora feudal, queimado sutiãs em público, ouvido falar que atravessaram o Atlântico sem cair na aresta da Terra e talvez até passado uns dias numa cela do DOPS, a conhecida sede de tortura da ditadura militar no Brasil. Será que não teria vibrado com a execução pública de um maluco que dizia que a terra era redonda?
Ah, eu teria visto de tudo!
O problema é que, mesmo vivendo todo esse tempo, teria outra limitação: o espaço.
Se tivesse nascido no Brasil, teria visto a evolução de rituais em tribos da Selva Amazônica e depois me convertido à fé cristã? E na China, teria acreditado na loucura do Mao? Na Rússia, seria eu uma dançarina ou teria passado fome?
E mais, se só eu tivesse o super-poder de viver mil anos, já teria perdido meus pais (( bate na madeira!)). E vários, milhares de amigos, namorado, marido, conhecidos. Teria tido filhos de diversas gerações, com diferentes pais em momentos completamente distintos. Será que algum ficaria na memória de um jeito mais marcante? Talvez aquele que foi lutar na guerra e nunca voltou... ou aquele outro que me deu um baita pé na bunda... Vai saber!
Certamente, em tanto tempo, eu teria aprendido várias profissões. E talvez tivesse escolhido uma pra me aperfeiçoar, e tivesse conhecimentos pra virar a melhor do mundo ((que pretensão!né mesmo!)). Saberia vários idiomas, teria viajado por tudo. Ou quiçá tivesse passado fome e não tivesse passagem nem pra chegar no outro canto da cidade.
Ou talvez tivesse passado por tudo isso. Teria sido pobre, e depois rica. E perdido tudo, e recuperado.
Também já estaria careca de saber que não dá pra se apegar aos bens materiais. E a pessoas, que medo! Nada de gostar demais, logo ele se vai. Ou, pelo contrário, me jogaria com tudo, de cabeça, até o fundo. Já que ele vai embora, vou aproveitar.
Sabe que pela primeira vez na vida cheguei a quase gostar da idéia de um dia morrer? Quanta experiência! É tempo demais!
O mais engraçado é que dias depois de tanta piração sobre os mil anos na minha cabecinha, comecei a ler um romance, Dos Mujeres em Praga, que fala que, muitas vezes, é mais importante o que não acontece do que o que acontece na vida das pessoas. Cada um de nós leva dentro de si diversos não-acontecimentos, coisas que não fizemos e que talvez tenham mais importância do que o que tivemos coragem, ou acaso, ou sei lá o que de vivenciar.
Não sei se penso tão radicalmente como o cara do livro, mas que a gente muitas vezes valoriza mais o que não rolou, ah, isso é verdade! Quantas vezes não nos pegamos pensando: puts, e se eu tivesse ficado com o fulano, eu não estaria melhor que com o beltrano?”, porque eu não fiz artes plásticas ao invés de medicina?”?
E aquela pessoa que a gente não é existe lá, num cantinho escondido da nossa vida.
Porque é isso mesmo. A gente não pode viver mil anos, e mesmo que pudesse, seria impossível viver todas as alternativas existentes ((ok, talvez quem entenda de física quântica possa me provar o contrário, vamos lá, algum voluntário? eu acho que ñ.cri cri cri .. população do blog 2.. eu e J )).
E lá vou eu, de novo com o tema das escolhas... Talvez porque decidi algo muito importante pra mim agora: vou pra Londres!, e de lá poderia ir pra Paris, e depois Itália, e depois leste da Europa. Mas e o curso, que você tava tão empolgada? Escolhas, escolhas... Ou eu ficava no Brasil e não veria mais nada além do quadro-negro, ou me jogaria pela Europa e deixaria pra trás o diploma. Feito!

Nenhum comentário: