terça-feira, 27 de abril de 2010



Esses dias escrevi no orkut que tava pensando em uma reviravolta na minha vida e uma colega respondeu: “mas quem não tá? É um mal da nossa geração, ninguém sabe o que quer!”. Outro dia recebi um e-mail de um amigo: “tô por aqui, pensando em ir praí, mas sem muita certeza...” Outros vêm, sem dúvida alguma. E outros já estão, pelo menos com alguma convicção. Tem também quem é daqui, e pensa em ir pra lá.
O Viti disse que o mal é da internet. Parece bobo, mas tem algum sentido.
A internet nos permite ver tudo o que acontece o tempo todo. Antes do mundo www, cada jornal tinha uma pauta, e tinha que escolher o que colocar num dia. Hoje a pauta corre o dia inteiro (e a madrugada também), e os carinhas do UOL, do Terra e do DC têm que inventar assunto. Caiu um avião bimotor em Helsinque? Notícia! Temporal numa cidadezinha do sul da Índia? Notícia!
E assim a gente vê tudo o que acontece, e tem certeza que hoje caem muito mais aviões que antes e que o mundo vai acabar amanhã porque a natureza pirou geral.
Enquanto isso, nossos amigos estão curtindo a Europa, a Austrália, conhecendo Istambul. A gente vê o mundo lá fora, tanta coisa acontecendo, tantas possibilidades... e a gente ali, indo do trabalho pra casa, da casa pro bar.
O que a gente esquece é que a internet mostra uma vida falsa. Uma vida ideal. São poucos os que publicam as crises, e a gente só vê a festa, as fotos sorridentes, os mil amigos. Ninguém diz que imigrantes não são bem-vistos, que os empregos muitas vezes são limpando privada ou carregando peso, que sente falta da família e do gato. Ou diz, e ainda assim ninguém escuta.
Talvez porque sim, é bacana viver tudo isso. Mas será que não é bacana ficar também? Tem um texto do Fernando Pessoa que amo:
Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.
Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis.
A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.
É louco demais tudo isso. Ninguém mais quer um emprego que dê dinheiro e estabilidade. A gente quer um emprego que nos permita curtir a vida. E isso quer dizer: que nos dê grana, não tome todo o nosso tempo, e ainda nos dê prazer (claro!).
A gente quer um amor pra vida inteira, que aceite nossas diferenças e que nos deixe fazer mil loucuras. Mas a gente quer esse amor só pra gente.
A gente quer conhecer o mundo, viver mil experiências, e ter um cantinho estável pra poder voltar.
Filho? Nem pensar, só quem é louco tem antes dos trinta (aliás, quarenta).
Caramba, mas tem uma hora que não dá! A gente tem que escolher entre uma coisa ou outra, entre priorizar isso ou aquilo. Intimidade faz a gente esquentar bunda fria. Trabalho tem chefe, ou no mínimo, cliente. Mudar de vida tem riscos... e é isso! Importante é admitir: temos que escolher.

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