segunda-feira, 13 de junho de 2011



No censo 2010,realizado pelo instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), os entrevistadores ofereciam aos entrevistados as seguintes opções para a pergunta " A sua cor ou raça é": branca, preta, amarela, parda ou indígena. A resposta é autoclassificatória, isto é, as pessoas respondem o que desejarem, dentre as categorias oferecidas pelo IBGE.
Justamente nesses aspectos se encontra a diferença em relação aos estudos genéticos. Além de, no censo, as pessoas poderem se declarar da cor que preferirem, o fato é que a cor da pele não necessariamente tem relação com a ascendência. São os casos em que o fenótipo - a aparência externa - parece discordar do genótipo, a composição do DNA.
O genético Sérgio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisa esse fenômeno. Em 2007, ele coordenou um estudo que traçou a ancestralidade de algumas celebridades negras brasileiras. A pesquisa confirmou a ascendência africana de alguns, como a cantora Sandra de Sá ( com 96% de ascendência subsaariana), e também trouxe algumas surpresas, como o sambista Neguinho da Beija-Flor, que tem 67,1% de ascendência europeia. Já a ginasta Daiane dos Santos tinha 39,7% de ancestralidade africana, 40,7% europeia e 19,6% ameríndia.
O estudo de Pena usou marcadores de DNA, ou haplogrupos, que são sequências que ocorrem em partes de determinados cromossomos. Funciona da seguínte maneira: o código genético humano é como um livro com quatro letras, ATGC (adenina, timina, guanina e citosina), as bases nitrogenadas que compõem o DNA. Marcadores são trechos dessas bases que acontecem numa ordem conhecida (por exemplo: ATCGATTGAGCT), nema parte conhecida dos cromossomos, que, se descobriu, ocorrem em alguns povos, mas não em outros. Assim, tendo noção dos marcadores e analisando-se os cromossomos das pessoas, é possível saber se ela têm genes típicos de um povo ou de outro.
Em 2000, Pena já havia conduzido um estudo de DNA mitocondrial e cromossomo Y apenas entre autodeclarados brancos brasileiros, de todas as regiões do país. Ele descobriu que 98% deles tinham ancestrais paternos europeus, mas 60% possuiam DNA mitocondrial indígena ou negro.O cromossomo U é passado intacto de pai para filho. Já as mitocôndrias são transmitidas de mãe para filhos e filhas, por meio de citoplasma do óvulo, o gameta feminino. Mutaççoes são bem mais raras nessas partes do código genético, que não passam pelo processo de entrelaçamento dos demais cromossomos. Diferentemente do teste de haplogrupo, no entanto, os testes de DNA mitocondrial e cromossomo Y não dão uma proporção de ancestralidade - apenas dizem de que região geográfica veio i ancestral que deu origem ás mitocôndrias ou ao cromossomo Y da pessoa.
Se dados científicos não são o bastante para resolver preconceitos irracionais, sem dúvida ajudam a perceber quão longe da verdade está quem se imagina de alguma forma "puro" ou "superior". No Brasil, mais do que em muitos lugares, as aparências enganam.

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