sexta-feira, 23 de abril de 2010




Nina La Chica

Eu sempre acreditei que quando duas pessoas se amam, fechou, era isso, não tem pra ninguém.

Nunca fui ingênua a ponto de acreditar que não iam ter dificuldades, brigas, desencontros e talvez até traição. Ok, eu sei que ser humano é ser humano e que merdas acontecem. Mas se Joãozinho e Mariazinha se gostam, porra, nada mais normal que eles contornem tudo isso e voltem a dormir agarradinhos e continuem assistindo juntos todas as temporadas de Friends.

A família de um não gosta do outro, vá lá, eles apresentam, vão mostrando que se gostam e uma hora os pais vão ter que entender que amor é amor. Um é rico e o outro é pobre? Ah, pára, dá-se um jeito, um ajuda nas contas do outro, dividem quando der, dinheiro não é nada! Moram longe? Nada que skype, MSN, e-mail e até mensagens por telefone não ajudem a curar.

Merda mesmo é quando falta amor. Mas duas pessoas que se gostam, que adoram o abraço da outra, o cheirinho, que sempre são parceiros e tem assuntos um com o outro? Duas pessoas que se ligam, adoram compartilhar o que tão fazendo, ficam felizes quando estão juntos... ah, não tem porque separar!

(Opa, não é assim?)

Era isso o que pensava a Marizinha até conhecer o Joãozinho. Foi intenso, os dois começaram num fogo alucinante! E tava tudo muito bom, tudo muito bem, até que a Mariazinha começou a perceber que os limites do Joãozinho eram um pouco diferentes. Ficou espantada quando a ex-namorada passou um feriadão na casa dele. Ok, mas tentou entender. No fim de semana seguinte ele foi viajar, e numa baladinha ligou pra outra ex. Mas tudo bem, no dia seguinte ele também ligou pra Mariazinha, e ainda declarou todo o seu amor. “Minha linda, minha querida, eu quero muito ficar contigo”. Se não fosse o resto do papo, “nossa, mas confesso que não lembro nada do que fiz ontem”, tudo estaria perfeito. Mariazinha estranhou, mas que bobagem, ela tinha sido recém pedida em namoro, e nada derrubaria ela do céu.

Mas o tempo foi passando, e ela vez por outra se sentia perdida com a falta de limites no mundo do Joãozinho. Tentava se adaptar, bebia até se sentir mais sensual, ia nos ensaios dele com a banda e curtia tudo o que o namoro tinha de bom.

Mas toda vez que ela ia num show e uma fã conversava com ele mais empolgada, pronto, ela não sabia o que fazer. Enquanto ele tava lá no maior papo, ela sentia que não existia. E quando ele ia fazer shows em outras cidades, insônia garantida pra ela.

É claro que entendia que ele queria ser simpático com todo mundo (nossa, como ele era especial e interessante!) Mas chegou uma hora que nossa personagem começou a fugir dos hihihis de fãs que lotavam o My Space e que eram respondidas com outros hihihis. Ela queria ser moderninha, como dizia aquela música dos anos 80. Mas se mordia, se mordia de ciúmes quando ele fazia serenatas pras meninas simpáticas, sorridentes (e lindas!) que encontrava na rua.

Afinal, o Joãozinho gostava de ser querido, e não achava nada demais que uma amiga se apaixonasse por ele. O que fazer? Nada, ela sabia que ele namora, então ele podia continuar falando todos os dias no telefone e vez por outra sair pra tomar um chope com essa amiga, isso não era problema. As duas paixões que ele tinha na vida eram a Mariazinha e a música, e pra ele era isso.

Mas a Mariazinha nunca ficou segura. Sentia sempre que tinha alguém rondando, que queria envolvimento de verdade, se sentir amada e única. Como toda garota de historinha infantil, ela queria ser pedida em casamento, queria ter uma música falando nela e um príncipe que não levasse mais ninguém no seu cavalo.

E nisso, os limites que pra ele não existiam acabaram limitando o relacionamento deles. Hoje a Mariazinha vive com o Pedrinho e o Joãozinho tem uma filha com a Camilinha, além de muitas e muitas fãs por todo Brasil e algumas outras pelo mundo.

E foi assim que essa história, que era pra ser uma das maiores histórias de amor de todos os tempos, nunca saiu de um armário empoeirado e cheio de teias de aranha da casa dos irmãos Grimm.

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